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Thursday, August 17, 2006

A verdadeira solidariedade a Cuba

por Norma Braga
MidiaSemMascara.org

Este mês, em Recife, iniciou-se no dia 12 a XIV Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, evento com uma série de palestras e painéis de nomes, no mínimo, curiosos: "Integração Latino-americana: A Construção da Alternativa Bolivariana das Américas"; "O Combate ao Terrorismo e ao Bloqueio Econômico do Governo Norte-Americano"; "As conquistas sociais do povo cubano e sua contribuição para outros países". Concomitantemente, no Rio de Janeiro, dia 16, marcharam no centro da cidade cerca de cem pessoas com cartazes e palavras-de-ordem: " Tirem as mãos de Venezuela e Cuba", "Bases estadunidenses fora da América Latina" e "Brasil-Cuba-Venezuela construindo a pátria grande". Brasil, Cuba e Venezuela? Isso significa Lula, Fidel e Chávez. Como já sabemos, boa coisa não é...

Um dos sites que divulgaram a manifestação exibiu um indignado parágrafo que culpa os EUA pela pobreza em Cuba, declarando que seu prejuízo devido ao bloqueio americano ultrapassa US$ 82 bilhões. À parte as indagações sobre a inusitada precisão do cálculo, gostaria de saber como o site justificaria a exuberante riqueza da parte turística da ilha, que atrai dois milhões de visitantes todo ano, ou a colocação de Fidel Castro entre os mais ricos do mundo pela revista Forbes. A explicação mais óbvia é que há 115 países em todo o mundo com quem Cuba tem felizes transações comerciais. E a pergunta da editoria do MSM, que faço minha, é: Por que o regime comunista de Cuba não pára de financiar o narcotráfico e fomentar partidos marxistas na América Latina e começa a usar os rendimentos do turismo para melhorar as condições de seu povo? Não seria de fazer Fidel engasgar?

O fato é que apenas uma mente imatura poderia acolher a alegação de que Cuba está pobre por causa da ausência de comércio com um país, unzinho só. Além disso, quem está pobre é o cubano, não Cuba. A falta de acesso a bens e serviços essenciais como comida, material de limpeza, água, luz e o verdadeiro bloqueio informativo imposto à população – que não pode ter contato algum com o exterior (tv, internet, rádio, jornais estrangeiros, tudo isso é proibido) – devem recair unicamente sobre a cabeça de seu mentor, Fidel Castro. O articulista Jamie Glazov é certeiro sobre o embargo: "Quando dizem que não há liberdade em Cuba por causa da pressão americana, esquecem um pequeno detalhe: Cuba tem seu próprio líder, que pode torná-la livre quando quiser."

Quanto mais se aprende sobre os fatos do regime, mais se chega à conclusão de que a verdadeira solidariedade a Cuba consistiria em um repúdio a Castro. Quando visitantes chegam à Cuba dos cubanos, não à turística (onde cubanos são proibidos de entrar), e se deparam com as loucuras do regime, não conseguem entender como há tanta louvação e tanta propaganda em torno de um sistema cujo líder se apropria das pessoas como quem toma objetos para si. O cubano, hoje, é propriedade de Fidel Castro. Quem hesita em crer nisso deve atentar para os fatos que inauguraram o castrismo e ainda o mantêm: congresso dissolvido, partidos destruídos e direitos políticos cassados, instauração de tribunais revolucionários, fim do habeas corpus, limites severos ao direito de ir e vir, controle total da educação e da mídia, apropriação de bens e punição violenta contra dissidentes do regime. Em seu livro Cuba: a tragédia da utopia, conta Percival Puggina que "ainda hoje qualquer um pode ser condenado em Cuba a pelo menos um ano de pena privativa de liberdade por crítica ao sistema. Qualquer ação ou prova escrita de desacordo eleva a condenação para muitos anos, pois tudo passa a ser tipificado como propaganda inimiga, conduta anti-revolucionária, atentado contra os poderes e contra a segurança do Estado" (p.47). Na contra-corrente da verdade e dos fatos, toda propaganda pró-Cuba na América Latina destina-se à implementação de regimes semelhantes no continente. Quem duvida, que procure se informar sobre os aliados de Lula no Foro de São Paulo.

O corolário disso é que toda tentativa de restaurar a verdade sobre Cuba é duramente rechaçada, com o apoio de todos aqueles que, em circunstâncias outras, fariam apelo à liberdade de expressão, mas somente para seus próprios gritos de guerra. Prova disso é o veto quase unânime na América Latina ao filme de Andy Garcia, The Lost City [A cidade perdida]. Contar uma história de amor ambientada no início da ditadura castrista era um desejo antigo do cubano-americano Garcia, e não foi realizado com a inocência de quem espera aplausos: "Sei que certos festivais não irão exibir o filme", declarou ele, acertadamente, em 2005, ano do lançamento. "Isso vai continuar a acontecer porque há pessoas que não querem ver a imagem de Che arranhada e porque existem aquelas que apóiam o regime de Castro. Ele ainda tem muitos defensores em todo o mundo, que acham que Castro é um salvador, que olha pelas crianças e pelos pobres. Isso é uma bobagem. Castro está no poder há 45 anos, e Cuba está há 43 anos entre os três países que mais violam os direitos humanos. Seus defensores fecham os olhos para essas atrocidades." Compreendo os grupos que respaldam o veto: apresentar um Che Guevara atirando em pessoas do povo, que heresia! Ainda que tenha sido mesmo um cruel assassino, para eles São Guevara não merece isso. Afinal, toda a adoração ao santo onipresente em camisetas e pôsteres reside na tremenda mitologização que cerca sua vida na América Latina, desde o ensino nas primeiras séries escolares até as produções de grande parte de autores esquerdistas, entre jornalistas, biógrafos, cineastas e outros deformadores de opinião.

É pena, mas tudo indica que será difícil assistirmos a Lost City, que está "sem lançamento definido" no Brasil até hoje. Pois bem: sendo o primeiro relato cinematográfico da história cubana que não consiste em peça de publicidade socialista, seria um tremendo ato de solidariedade a Cuba divulgá-lo, para mostrar o que realmente ocorreu por lá. E, se você está chocado(a) com a proibição do filme e crê viver em um continente livre, cuidado: por causa do socialismo, ele é cada vez menos livre.

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